quinta-feira, 3 de maio de 2007

Eu compartilho com você...Ó Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia. Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião.Livra-me, também, Senhor, deste desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros.Ensina-me a pensar nos outros e ajudá-los, sem me impor, mesmo considerando com modéstia a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar adiante. Tu sabes, Senhor, que desejo preservar uma boa relação com meus filhos, e que só se preserva os filhos quando não há intromissão na vida deles.Livra-me, também, Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dá-me asas para voar diretamente ao ponto que interessa.Não me permita falar mal de alguém. Ensina-me a fazer silêncio sobre minhas dores e doenças. Elas estão aumentando e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada ano que passa. Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; seria pedir muito. Mas, ensina-me, Senhor, a suportar ouvi-las com paciência. Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso estar errada em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que acertam sempre são maçantes e desagradáveis.Mas, sobretudo, Senhor, nesta prece peço: mantenha-me o mais amável possível.Livrai-me de ser santa. É difícil conviver com santos! Mas uma velha rabugenta, Senhor, é obra-prima do diabo!Amém!!!Livra-me, Mãe, da arrogância e dos juízos apressados, mas não me deixa esquecer quem eu sou;Livra-me do passado, não quero ser prisioneira da saudade; me acorda todos os dias, para o aqui, o agora, o hoje, esse é o meu tempo;Livra-me do "bigode chinês", aquelas rugas horrorosas que deixam a gente com a cara triste, de cachorro buldogue abandonado...isso não pode fazer bem para a alma e deve ter sido um lapso do Criador!Livra-me da intolerância e me deixa morrer à sombra de uma árvore, mas no pátio ensolarado, onde as crianças jogam bola, as amigas gritam, as portas batem com o vento, os namorados se abraçam, e o mundo faz barulho...Torna-me cada vez mais permeável à compaixão, até que eu seja como um tecido velho e esgarçado pelas histórias humanas;Ajuda-me a continuar fazendo uma coisa assustadora por dia, a dar uma boa risada todos os dias (ao menos uma), a não deixar de cantar no chuveiro todas as manhãs, a chorar sempre: quando os bebês nascem, quando os cachorros morrem e quando começam a pintar os primeiros verdes da primavera...Quando chegar a hora, Mãe, permita que eu saia de cena com certa elegância, como as grandes damas do teatro. Difícil? Então me ensina a rir da decrepitude e estamos conversadas;E me acolhe no teu colo no final...Amém